Ligação Karmica entre Guias espirituais e médiuns
Um encontro entre Adônis e João da Porteira.
— Olá como vai o senhor?
—Eu estou bem e o senhor? Por favor, me chame somente de João da Porteira.
— É um prazer conhecer você João da Porteira, o professor falou bastante sobre você.
— Gosto muito de conversar com o professor, mas ele precisou se ausentar por alguns dias.
— Sim, falei recentemente com ele, e quando ficou sabendo que eu estava aqui na cidade me indicou você, antes que me esqueça, pode me chamar de Adônis.
—Gosto muito de estudar a umbanda, embora me aprofunde mais no esoterismo.
— Seu Adônis, eu frequento a umbanda desde garoto, na casa da vó Sebastiana, mas é um Terreiro bem simples, muito antigo.
— Eu sei! O professor me contou, me disse que você gosta muito de estudar.
— Já estou adiantado na idade, mas procuro me atualizar, nem sempre a gente consegue encontrar conhecimento verdadeiro, não é? Lá no Terreiro ninguém estuda, a maioria é do tempo antigo.
— Não faz muito tempo, conversei com o professor sobre o Corona Virus.
—João o professor é um estudioso da doutrina dos Sete Reinos Sagrados, eu já sigo outro caminho, gosto muito da Teosofia, mas somos velhos amigos.
— Seu Adônis me fala um pouco sobre este conhecimento.
— Como vou ficar um bom tempo aqui na região, vamos ter várias oportunidades para conversarmos. Tem algum assunto que você gostaria de saber?
— Olha seu Adônis, tem uma coisa que sempre me deixa pensativo. É verdade que existe uma ligação entre os guias e os médiuns? É alguma ligação de outra vida?
— Olha João, este assunto é interessante, vou tentar passar um pouquinho do que sei para você.
— Você já deve saber que todo umbandista possui, em maior ou menor grau, alguma ligação em encarnações anteriores com práticas e ritos mágicos, e a maioria acumulou Karma devido a má utilização do livre arbítrio. Digo isso porque a Umbanda é uma ferramenta de resgates Kármicos, magista e mediúnica.
— Eu sei! Inclusive o professor vive falando sobre esta questão do livre arbítrio, segundo ele precisamos tomar muito cuidado para não interferir no livre arbítrio das pessoas. Diz ele que no Terreiro dele existe até um juramento que os médiuns fazem neste sentido.
— Então! A umbanda também é, assim como todas as religiões verdadeiras, um caminho espiritual que pode conduzir o adepto muito acima da condição humana vulgar.
— Sei, sim! Seu Adônis.
— Existe uma ligação Kármica entre cada médium de Umbanda e todos os seus guias e entidades com os quais atua. Você pode observar isso facilmente pelo fato de o médium umbandista sempre trabalhar com os mesmos guias, tanto mentores quanto exus, não importando o terreiro que frequente.
— É verdade! O senhor sabe que na vó Sebastiana, todos os médiuns trabalham há muito tempo com os mesmos guias. E parece que isso acontece em vários Terreiros, não é?
— Sim, João. Se não houvesse essa ligação, poderia muito bem acontecer de o médium chegar a um terreiro e incorporar qualquer entidade que estivesse ali “vagando”. Então em cada templo, ele iria incorporar entidades diferentes, que iriam ficar “pulando” de médium em médium, trocando e revezando, o que não acontece na umbanda.
— Agora, pensando bem, acho que o senhor tem razão. Eu nunca tinha pensado nisso.
— Graças ao fato de a Umbanda ter um porquê de existir e suas forças serem ordenadas por conjuntos de leis cósmicas naturais, independente de quantos templos o praticante umbandista frequente, ele sempre trabalha com os mesmos guias e entidades, os seus guias e suas entidades, vinculadas a ele por laços muito particulares.
— Então seu Adonis, pelo que eu entendi, eu já vivi em outras vidas como um Caboclo e como um escravo, é por isso que tenho guias de Caboclo e Preto Velho?
— Não é bem assim João, o fato dos guias terem ligação com seu médium não significa que eles se conheceram em alguma encarnação passada, ou que foram parentes ou amigos em outras encarnações, embora isso possa ser possível. Eles estão conectados por laços definidos naturalmente pelos Senhores do Karma devido a empatias e similaridades energéticas, além de resgates kármicos em comum e experiências necessárias para ambos, onde um precisa do outro, como guia e mensageiro.
— Entendi! Seu Adônis, eu pensava que todo guia tinha vivido na mesma época dos Caboclos e Pretos Velhos.
— João, a entidade precisa do médium para a realização de trabalhos e tarefas que necessitem de um intermediário com o plano físico e suas energias. O médium, por sua vez, se mantém em contato com os planos mais sutis e a sabedoria dos guias, acelerando e auxiliando o seu progresso espiritual.
— Eu posso te falar João, que existem diferentes ligações entre guias espirituais e médiuns, existem várias categorias de entidades que podem nos acompanhar na jornada mediúnica.
— O senhor poderia me explicar melhor?
—Sim! A principal ligação é a do guia chefe do médium, do cavalo, como costumamos falar na umbanda, onde o karma de ambos está mais entrelaçado do que o de qualquer outra entidade que possa vir a se manifestar através dele.
— É seu Adônis, eu tenho um carinho muito grande pelo Caboclo que me acompanha.
— Essa ligação João, inicia antes da atual encarnação do médium, podendo inclusive ser mantida por várias encarnações e não termina antes do desencarne. Todos nós, médiuns ou não, temos esse pai ou mãe espiritual que nos vigia silenciosamente e nos acompanha mesmo que não percebamos, é o responsável por nós, quem responde em nosso nome na espiritualidade.
— É o nosso pai espiritual, não é?
—Sim, podemos fazer uma analogia com o nosso pai biológico, todos nós temos um e será o mesmo durante toda a encarnação, independentemente do fato de termos uma relação próxima com ele ou não, e até mesmo de conhecermos ou não sua identidade.
—Normalmente o guia chefe e o médium pertencem ambos ao mesmo Raio de evolução, à mesma Linha da Umbanda, ao mesmo molde divino, foram feitos da mesma têmpera, só que o guia está em um patamar superior ao de seu pupilo/protegido.
—O professor já falou comigo sobre este assunto, ele costuma falar muito em Reinos Sagrados e que formam hierarquias espirituais. Que estas hierarquias seriam caminhos espirituais evolutivos.
— Isso João, é uma visão semelhante.
— Quanto maior a ligação do médium com seu guia chefe, mais fica protegido pelo Raio de ação deste, fechando o círculo para as demais forças externas e evitando problemas mediúnicos diversos, como incorporação indesejada, obsessões etc…
—É isso que faz o desenvolvimento mediúnico no Terreiro, não é? Conforme o tempo vai passando, vai aumentando a ligação do guia chefe com o médium? Não é isso?
—Sim, João. Pode ser entendido desta forma, mas outro dia a gente conversa mais sobre desenvolvimento mediúnico na umbanda.
— Tá certo seu Adônis.
— Chega um momento em que a ligação é tão forte que só tem acesso ao médium entidades que obtiveram a autorização do guia chefe para trabalhar — este é o desenvolvimento umbandista adequado e desejado.
— É assim que a Vó Benedita faz em nosso terreiro e também é desta forma que o professor faz lá no terreiro dele.
— E as outras entidades que também trabalham com o médium seu Adônis?
—Quanto as demais entidades que acompanham, protegem e trabalham com o médium, as principais possuem também uma ligação kármica com ele, porém menor se comparada aos laços com o guia chefe.
— A gente pode dizer que são como padrinhos e amigos espirituais, auxiliando o umbandista em sua caminhada e através dele realizando trabalhos diversos, pois cada entidade possui energias, conhecimentos e habilidades particulares, enquanto uns trabalham com cura, outros limpam o ambiente, expurgam energias ou entidades malignas etc…
— Interessante seu Adônis, estou aprendendo bastante com o senhor. Tem coisas que nunca havia pensado.
— Então João, além dos guias kármicos, o médium pode ter ao seu redor outras entidades, forças e amigos espirituais que o auxiliam energeticamente, enviando boas vibrações e até podem se comunicar em sonhos.
— É importante lembrar que na espiritualidade semelhante atrai semelhante, portanto a conduta moral do médium, assim como o caráter de suas ações e pensamentos, irá atrair este ou aquele tipo de companhia no mundo invisível.
—É verdade seu Adônis, eu sempre ouvi falar sobre isso. Os próprios espíritos sempre falam sobre isso lá no Terreiro.
— João, mas num médium bem preparado na Umbanda, raramente alguma outra entidade espiritual se manifestará por ele, a não ser em situações muito especiais.
— O médium mal preparado ou que não possui boa índole, que nem sempre utiliza a mecânica mediúnica com responsabilidade, pode acumular em sua companhia seres, forças e energias indesejáveis, que, ao invés de auxiliar em seu progresso, o prejudicarão.
— Sim seu Adônis, aí os kiumbas tomam conta do médium, também já ouvir falar de espíritos obsessores que ficam ao redor do médium e causam muitos problemas.
— Em muitos casos, devido à conduta indevida do médium, os verdadeiros guias e até mesmo seu guia chefe perdem acesso ao seu filho, já que não é o guia que se afasta do médium, mas o médium que se afasta do seu guia, pelo fato de ter baixado seu nível vibratório, ficando a mercê destas forças indesejáveis.
—É por isso que quando uma pessoa descobre ser médium, muita gente a aconselha a fazer um desenvolvimento mediúnico.
— Sim, lá no Terreiro da Vó Benedita os guias avisam que a pessoa precisa entrar para a corrente.
—Acontece que uma vez que o canal mediúnico está aberto, se não aprender a utilizar essa mecânica e se conectar com os seus verdadeiros guias, através de pensamentos e propósitos elevados e sinceros, deixará a porta aberta para que outros seres e forças utilizem este canal e dependerá da índole do médium definir o caráter e natureza do que o irá acompanhar.
— É como dizem “vigiai e orai”, não é seu Adônis?
— É bom a gente lembrar, que outro motivo deste aconselhamento para que o médium pelo menos estude a respeito da mediunidade é que a mediunidade é um resgate Kármico, é uma provação que a pessoa terá que enfrentar em um momento ou outro, nessa ou na próxima encarnação.
— Sempre é bom estudar e se livrar dos medos e ideias erradas sobre a mediunidade.
— Seu Adônis, eu já percebi que o senhor gosta muito de conversar.
—Gosto sim João, toda vez que encontro alguém disposto a ouvir esqueço-me do tempo, e viajo no assunto.
—O senhor vai ficar um tempo aqui na cidade?
— Vou sim João, pretendo ficar um bom período por aqui, assim descanso um pouco.
—Isso vai ser muito bom, vamos nos encontrar novamente aqui na praça.
— Está combinado! Até o próximo encontro. Abraços!
—Abraços e até mais.
Manoel Lopes
Texto publicado na revista Umbanda – Escola Iniciática do Caboclo Mata Verde nº24 de 12/2020
Obs.: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
Diálogo baseado no livro: Umbanda uma visão esotérica—Camos
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